Cessar-fogo frágil deixa passar primeiros sinais de federalização

Cessar-fogo frágil deixa passar primeiros sinais de federalização


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As acusações eram mútuas. Ontem os dois lados do conflito ucraniano acusavam o outro de bombardeamentos esporádicos, mas mesmo assim considerava-se que o acordo de cessar-fogo assinado na


sexta- -feira estava a ser cumprido. Uma das cidades afectadas por estes bombardeamentos terá sido a de Mariupol, na linha da frente do conflito com os rebeldes… As acusações eram mútuas.


Ontem os dois lados do conflito ucraniano acusavam o outro de bombardeamentos esporádicos, mas mesmo assim considerava-se que o acordo de cessar-fogo assinado na sexta- -feira estava a ser


cumprido. Uma das cidades afectadas por estes bombardeamentos terá sido a de Mariupol, na linha da frente do conflito com os rebeldes separatistas e onde esteve ontem o presidente Petro


Poroshenko a prometer uma “derrota pesada” aos separatistas. “Dei ordens ao exército para que mantenha a defesa de Mariupol com obuses, rockets, tanques, armamento antitanque e cobertura


aérea”, afirmou o líder ucraniano. “Esta terra é nossa e não a entregaremos a ninguém. Viva a Ucrânia”, declarou o presidente, que garantiu não se sentir intimidado pelos rebeldes. À chegada


à cidade, Poroshenko anunciou aos jornalistas que tinha conseguido “libertar 1200 dos nossos prisioneiros”, mas sem explicar se tal aconteceu numa troca prevista no acordo de cessar-fogo. A


Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), o único observador no processo do acordo, começou ontem a revelar pormenores que permitiram a assinatura do cessar-fogo. O mapa


para acabar com o conflito terá 12 passos e determina que Kiev tem de preparar um novo sistema legal no país, de forma a dar um estatuto especial às regiões de Luhansk e Donetsk, permitindo


ainda a realização de eleições regionais, com uma descentralização de poder no país, um ponto que vai no sentido do que Vladimir Putin há muito defende como solução para a Ucrânia e que


passa pela criação de uma federação com estados autónomos a leste. O acordo assinado pelo grupo de contacto, que inclui a Ucrânia, os separatistas, a Rússia e a OSCE, determina ainda que


Kiev lance um “diálogo nacional inclusivo” e garanta uma amnistia às forças antigovernamentais, proibindo “a perseguição ou a punição de pessoas ligadas aos acontecimentos das áreas de


Donetsk e Luhansk”, ao mesmo tempo que sublinha que “as formações militares ilegais, o equipamento militar, os militantes e mercenários” têm de ser retirados do país. O Ocidente continua a


acusar a Rússia de apoiar os rebeldes separatistas e ontem o programa de investigação “Panorama”, da BBC, revelou dados para reforçar a tese. A BBC adianta que há testemunhas que garantem


ter visto soldados com “sotaque russo” a controlar um sistema de mísseis BUK, poucas horas antes de o avião malaio do voo MH17 ter sido abatido, a 17 de Julho. A ONU revelou ontem novos


dados sobre o conflito ucraniano, que já fez mais de 3 mil mortos, numa tendência ascendente “clara e alarmante”. O secretário-geral- -adjunto da ONU para os Direitos Humanos, Ivan


Simonovic, revelou ontem que entre meados de Abril e Julho morreram em média 11 pessoas por dia no Leste do país, uma média que triplicou para 36 entre 16 de Julho e 17 de Agosto e que


inclui as vítimas do avião comercial da Malaysia Airlines abatido sobre a região de Donetsk. Ivan Simonovic admitia que o número real de mortes possa ser “notavelmente superior”, já que os


dados revelados se baseiam em estimativas das fontes disponíveis. A forte subida de mortes de civis no último mês deve-se ao aumento de combates com uso de armas pesadas e ao bombardeamento


indiscriminado de zonas habitadas. O responsável pelos Direitos Humanos da ONU indica que cerca de 460 pessoas terão sido sequestradas por grupos armados rebeldes e que “quando alguns


sequestrados são libertados mais são detidos”. A ONU estima que metade da população da região de Luhansk e um terço da de Donetsk tenha fugido das suas casas, num país com cerca de 200 mil


deslocados internos e mais de 800 mil refugiados na Rússia.